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Médico educador: ensinando pouco a pouco seus pacientes

Radar Plantão | Conectando Médicos e Plantões em Todo Brasil

Uma das mais bonitas ações do médico é a de ensinar seus pacientes sobre como funciona seus corpos e sua interação com o mundo. Parte do processo de cura e da manutenção da saúde estão com base naquilo que uma pessoa sabe e faz em seu dia a dia. Por exemplo, tomar os remédios da forma certa, fazer exercícios ou cuidar da alimentação. O ponto é que essas ações dependem apenas do paciente. Aqui entra o papel do médico educador.

Já reparou que muitas vezes falamos para outras pessoas o que elas devem fazer. Elas concordam e pouco tempo depois estão fazendo o contrário do que haviam dito?

Isso pode significar duas coisas: ela estava falando apenas por educação ou sua anuência era racional, porém superficial. A questão é que na área da saúde sem a devida consciência e transformação interna, existe a chance do paciente voltar aos comportamentos anteriores ao atendimento. Isso pode manter, agravar ou pior, gerar um novo quadro.

Tudo aquilo que o homem ignora, não existe para ele. Por isso o universo de cada um, se resume no tamanho de seu saber. – Albert Einstein



O médico educador

Para que haja de fato essa transmissão de conhecimento e geração de comportamento adequado o médico pode trazer para sua prática recursos da pedagogia. Aqui, ele vai se entender como um agente que está trazendo para outra pessoa informações que em geral são novas e que devem se conectar com outras que ela possui previamente, ampliando seu leque de conhecimento.

Nesse processo existe a necessidade de ir com calma, desenvolver vínculo e adequar o discurso dependendo de quem está na frente. Dessa maneira, é preciso ter atenção com a formação cultural do paciente, sua história, seu cotidiano, suas crenças e valores e principalmente, seus limites e potencialidades.

Ou seja, ele tem um certo conjunto de saberes sobre si mesmo e o mundo. Com base nele, faz suas escolhas e muitas delas tornaram-se automáticas (hábitos). Agora está sendo apresentado a novidades que devem ser incorporadas ou alteradas em sua vida.

Assim, o paciente encontra-se entre seus conhecimentos prévios e os novos conhecimentos que conseguirá alcançar com a ajuda de um mediador. A esse espaço o psicólogo Lev Vygotsky chama de Zona de Desenvolvimento Proximal e aqui encontra-se o médico que busca ser também um educador.

Dessa forma, pense em uma criança que está quer saber andar de bicicleta. Ela começa com a ajuda de rodas de apoio, para chegar ao próximo estágio (sem as rodas) ela precisa de ajuda de alguém do seu lado. Assim, recebe algumas instruções, pouco a pouco vai sentindo o equilíbrio, se tende a cair sabe que pode se segurar e cada vez mais vai precisando menos de suporte.

Um exemplo: das “rodas” para os remédios

Em primeiro lugar, vamos imaginar um paciente analfabeto funcional que precisa tomar algumas medicações ao longo do dia, em horários diferentes. Além disso, precisa mudar seus hábitos alimentares, introduzindo mais frutas e verduras. Se essas orientações forem apenas passadas de forma oral ou por escrito, existe grande chance de não surtirem efeito. Em especial quando observadas no longo prazo.

O médico educador poderá ajudar, por exemplo, orientando a utilização de um sistema de símbolos e cores em um calendário para as medicações e se ele souber de uma forma clara o que alimentos que não são saudáveis fazem no corpo. Durante a sua fala, uma boa ideia é usar parábolas e comparações.



Indo além

Claro que isso não basta, é preciso ir a fundo: por exemplo, o que ele sabe sobre remédios e a importância de tomar as quantidades certas nos horários certos? Como é seu dia a dia? Como ele se lembrará dessa administração? Quem o ajuda? E com relação à alimentação, qual seu histórico? Qual o sentido do alimento para ele e sua família?

Quando o paciente retornar, é preciso verificar o quanto daquele hábito foi incorporado à sua rotina. Em seguida, pode ser visto o tanto que ele pode ser abastecido com novas informações. Finalmente, decidir os novos espaços de autonomia.

De vez em quando, existem recuos que devem ser identificados e entendidos. O que poderia ter acontecido para que aquele remédio não tivesse sido esquecido? Existe uma forma diferente para colocar suas frutas preferidas no cardápio?

Da mesma forma, vamos voltar ao exemplo da criança: se ela caiu com a bicicleta é importante explicar o que aconteceu a ela e encorajá-la a tentar novamente, agora com mais experiência. (E também é bom não tirar a mão tão cedo).

O real não está no início nem no fim, ele se mostra pra gente é no meio da travessia – Guimarães Rosa em Grande Sertões: Veredas

Perguntas, perguntas, perguntas

Perguntas abrem as portas da mente. Tanto do médico para saber sobre o outro quanto do paciente para se conhecer.

A propósito, o médico educador pode usar perguntas (de preferência abertas) para que o paciente gere consciência através de suas próprias respostas.



Exemplos de perguntas do médico educador

  • “O que o senhor(a) diria para o seu neto(a) / filho(a) / irmã(o) / pai / mãe que não toma remédio na hora certa?”
  • “Que diferença faz para o corpo de uma pessoa que come frutas todos os dias?”
  • “O quanto sua saúde afeta também sua família?”
  • “De zero a dez o quanto você está comprometido(a) com a sua saúde?”

Acima de tudo, o médico educador tem o cuidado de saber a distância entre o lugar mental que seu paciente está e aquele desejado. Tendo essa medida em mãos, poderá ajustar a forma de falar, dosar a entrega de informação e seguir com a evolução. Cada novo passo tem que estar perto do anterior, unindo com a sua bagagem cultural e como resultado serve de ponte para o estágio seguinte.

Espalhando saber e se eternizando

Em outras palavras, quando ensinamos algo para uma pessoa que ajuda em sua vida, ela se sente bem e passa para frente esse saber com seus atos ou falas. Ela quer coisas boas para quem gosta. Dessa forma, quando um médico educador explica algo para um paciente, como bons hábitos ou do impacto do cigarro no corpo, está mudando sua visão. Assim, está formando um multiplicador.

Essa pessoa a partir dessa hora será alguém que se apropriou de um saber e mais do que cuidar de sua saúde, está ajudando para um mundo mais sadio. E em cada transmissão dessa sabedoria, está um pouco do estudo, da emoção e do olhar do médico que começou esse movimento.

Em conclusão, pense na carreira de um médico, desde quando ele era um recém-formado até sua aposentadoria. Por quantas vidas ele terá passado? Veja quantas chances de espalhar boas ideias. Dessa maneira, uma visão, uma compreensão, um saber em um paciente é um bem para todo mundo.

O educador se eterniza em cada ser que educa. – Paulo Freire

Imagem Pessoas foto criado por jcomp – br.freepik.com



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